São Paulo, meu amor, minha menina

Kira Yagami
6 min readDec 1, 2021

Acho que (essa é a pior forma de começar sua redação no Enem) uma hora ou outra as pessoas acabam fazendo algo impensado e irresponsável na vida, acho que isso faz parte do crescimento como um todo, não que as pessoas tenham que se enrolar na vida para então aprenderem o que funciona e o que não, mas isso é, instintivamente, uma boa forma de aprendizado. Aparentemente a gente não pode acertar tudo na vida, mas errar pode, sendo assim, os nossos acertos as vezes precisam de um charme a mais, isto é, a gente se pune tanto quando erra e se dá tão pouco quando acerta não é? (Ou só eu que faço isso?)

Eu com certeza não tive um bom ano, eu enfrentei diversas vezes alguns fantasmas, mas dessa vez tentei me apegar nas coisas certas, sabe, eu já me apeguei muito a coisas erradas e aqui cabe de tudo, coisas, sensações e pessoas, foi tentando mudar isso que bem ou mal isso acabou funcionando, talvez esse texto seja um pouco sobre isso, sobre esses conceitos altamente aleatórios como sermos uma soma de tudo que ocorre conosco, por isso nunca mudaria o passado ou algo assim, mas a verdade é que eu realmente não mudaria meu passado, não que as coisas estejam triunfantes agora, mas cada pedaço de aprendizado conta, é claro que a pessoa que não mudaria NADA no próprio passado provavelmente toma Nescau com açúcar e já perdeu o bom senso, eu mudaria sim pequenas coisas, mas não mudaria o aprendizado, talvez eu faria as coisas de maneira menos dolorosa ou talvez não erraria duas vezes tentando aprender a mesma coisa, de toda forma, esse texto compreende um pedaço duro da minha vida que tem começado a se encontrar e é irônico pensar que tudo foi feito por acaso.

Primeiro a pandemia, a incerteza, a instabilidade financeira e o simples abandono, tudo isso eu fui passando sem entender direito, bebendo tentando esquecer como manda o manual do que não fazer, com uns amigos eu briguei e não tive perdão, com outros eu tive perdão mas não briguei, no fundo eu acabei perdendo meus recursos. Sabe quando a gente consegue ler o clutch, mas o inimigo tem uma Phantom sublime e você só tem a pistolinha verde da Sage? Mas é lendo o clutch que o burst mesmo nerfado ganha daquele A/D rápido e certeiro, talvez eu tenha demorado a ler, mas o clutch também te força a fazer algo diferente do padrão ou você vai falhar, eu já escrevi sobre como o Valorant me acompanhou, até mesmo me salvou de algo pior, ou talvez o Valorant seja algo pior, independentemente disso, eu decidi fazer o impensável e ganhar o clutch, num dos momentos mais duros de 2021, decidimos que São Paulo era uma loucura inaceitável e é isso que ganha o clutch, o absurdo, o inaceitável, o “não acredito que esse cara fez isso”.

Tal qual como a decisão de vir pra cá, o restante todo foi uma confusão, arruma isso, arruma aquilo, leva isso, deixa aquilo, como vocês vão se manter lá? Vocês vão pra lá sem um trabalho fixo? Eu lembro que foi muito duro juntar o dinheiro de tudo, era todo tipo de bico, era subindo morro no sol e na chuva, era acordando as 6, mas é engraçado como isso tudo foi feito tão acobertado, de algum forma fazia muito bem que as decisões fossem só nossas e de mais ninguém.

Chegamos aqui, dormimos no chão duro sem colchão sem cama, fizemos uma mudança exaustos, nos demos conta de como seria difícil, ficamos malucos, ficamos sem perspectiva de nada, particularmente eu sentia vontade de me jogar na Marginal, mas quase em 2022 quem nunca pensou em se matar mesmo que seja rapidinho, né? Aos poucos as coisas se acalmaram, se acertaram, e a gente foi entrando em sincronia com esse corpo gigante e complexo chamado São Paulo e aqui que esse texto se complica, porque se trata de um quase carioca (?) falando sobre Sampa.

Está sonando la típica canción que ayer
No te gustaba y ahora presumes, puede ser
Que hayas cambiado
Es lícito sentir placer
Por cosas que odias
Y reconoces que están bien

Em primeiríssimo lugar, a maioria dos lugares de São Paulo que vendem cafezinhos já te vendem ele com açúcar e isso é muito estranho, talvez porque você esteja morrendo de pressa e parar pra adoçar te faria chegar atrasado, perder o metrô e o ônibus, em certas situações o açúcar vai bem, mas já me ocorreu de perder um cafezinho simplesmente porque parecia um caldo de cana de tão doce. O metrô em si é outro conceito quase que exclusivo do paulistano, foge completamente da minha concepção a maneira que as pessoas se comportam no metrô caso este ao invés de ligar a Barra Funda a Itaquera, ligasse Botafogo a Pavuna. Que fique claro que nada disso se trata de uma crítica a São Paulo, na verdade, eu tento ter um olhar antropológico dos lugares onde eu passo ou vivo, com Volta Redonda foi bem parecido.

O sotaque ainda me incomoda um pouco, confesso, mas eu tenho plena noção de que o errado sou eu, ainda assim, continuo chiando em todos os S possíveis, inclusive atendendo ligações importantes nas quais eu não deveria fazer isso. No fundo, São Paulo é um lugar legal que eu tenho aprendido a gostar, a Brahma faz falta, é verdade, mas eu nunca reclamei de beber Skol, aliás, IXKOL. Ter essa noção do ritmo, de como funciona uma cidade desse tamanho é um aprendizado assim como todos os que eu citei no início do texto, eu aprendi a conhecer uma São Paulo além da Av. Paulista e da Praça da Liberdade, aprendi o tamanho da Zona Leste, aprendi os lugares estranhos e os lugares legais mas, São Paulo é grande demais para ser aprendida em dois ou três meses.

Aqui sim começam as críticas, em primeiro lugar o superficial, eu aprendi conceitos muito estranhos como a Mina Mandraka e isso é bem estranho porque de onde eu venho se aparecesse alguma menina assim seria bem ridículo, com todo respeito as Minas Mandrakas, mas a noite do paulistano normie (não há na minha literatura frase pior que esta) me pareceu bem diferente, com muito Narguilé, lâmpada no balde de gelo do combo e afins, foi a partir dessa situação que eu tentei organizar meus argumentos sobre o maior problema que eu percebi na cidade.

Em primeiro lugar o disclaimer, São Paulo é enorme e carrega consigo muitas culturas e acima disso, carrega a soma de todas essas, mas a sensação que eu tenho é sobre uma artificialidade, talvez isso esteja ligado ao pensamento de uma cidade pequena e isso se repita em toda capital cosmopolita, mas, São Paulo tem tantas coisas, tantas culturas, tantas oportunidades e cria tantas situações, que nenhuma delas parece ser de verdade, parece se tornam maneiras de você ser capturado seja por um bar, uma loja, um comércio, parece que falta esse gosto de realidade, claro que tudo isso pode ser uma prepotência de quem acabou de chegar e já quer sentar na janela, mas assim como a gente coleciona aprendizado, eu acho justo que esse texto se mantenha aqui, porque no dia que eu discordar dele, eu posso citar esse absurdo, ou quem sabe eu posso dizer que já falava sobre a artificialidade da cidade desde que cheguei aqui.

Eu sinto saudade de casa as vezes, principalmente da praia, mas eu não posso me dar ao luxo de parar agora, matei a saudade de escrever, jogar as ideias no papel e criar desabafos, continuo aqui, aprendendo, entendendo que fica do meu lado e descartando quem não fica, demorou, mas ter entendido finalmente quem é importante e quem não é me fez pensar em todo recurso que eu gastei sem motivo.

We’re coming back for you nunca passou de uma mentira do Cock Sparrer, mas hoje é engraçado pensar que eu acreditei.

Just remember, out there somewhere
You’ve got a friend, and you’ll never walk alone again

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Kira Yagami

ENFJ, Professor de história, baterista sem foco, Sage nas horas vagas.