Nada acontece por acaso

Me convidaram para uma tal suruba

Kira Yagami
16 min readSep 12, 2022

Quando eu tento buscar a primeira lembrança que eu tenho em relação a música me faltam direções importantes, não que eu sempre fosse cercado por música, mas, não é aquela música de fundo sabe? É aquela peça principal, aquela que você decide parar e escutar, ou talvez não consiga se desfazer de ouvir, eu sei quando e como isso aconteceu, talvez por ser uma criança nascida no mesmo ano que os Mamonas Assassinas morreram num acidente aéreo, aquela ideia ainda parecia aceitável no longínquo ano de 2002. Eu sentei na frente de um velho rádio amarelo que existia lá em casa, botei o CD, descobri coisas que para mim, no auge dos meus 6–8 anos eram incríveis, talvez o refrão de Mundo Animal soasse diferente se eu fosse um pouco mais novo, mas naquele momento eu estava aprendendo o quão importante seria a música na minha vida.

Eu tinha uma velharia chamada “Discman”, uma daquelas coisas que se vista com os olhos de hoje, vinte anos depois, pareceria quase uma mentira, um aparelho em formato redondo que cabia um CD dentro, com saídas de fones de ouvido, que funcionava a pilha, esse era nosso jeito de ouvir música longe da eletricidade do rádio ou da TV. Aquele Discman rodou muitas vezes esse disco dos Mamonas Assassinas, que apesar de hoje terem um papel totalmente diferente na minha cabeça, na época era uma das coisas mais “cool” que poderia ser feito, eles falavam palavrões, eles eram engraçados, você talvez quisesse ser como eles, acho que nasci ali um senso de pertencimento que sempre foi muito meu.

O tempo passou, eu aprendi a gravar CD’s num dos programas mais antigos que tenho lembranças de usar, o Nero, um programa que permitia que você queimasse CD’s virgens com arquivos .mp3 e logo eu ia aprender que o CD prensado de fábrica e o CD que eu queimava não tocariam no mesmo player por motivos mais do que óbvios, mas era vivendo e aprendendo que a gente foi caminhando. Eu lembro de ter aprendido todas essas coisas sobre ouvir música, sobre tecnologias de como escutar músicas e como as fazer soar, mas tinha uma questão que eu não sabia responder: O que você gosta de escutar de música? Essa pergunta era quase que um desespero, como eu ia explicar que eu gostava de ouvir Mamonas Assassinas, aquela coisa tosca que na verdade eu como criança nem deveria estar ouvindo, eu lembro que fugia dessa pergunta, mas eu nunca soube o que estava na moda na época, eu mentiria dizendo o que? Eu disse várias vezes que não gostava muito de música sem saber o que responder e ninguém entendia, era só o desespero de uma criança tentando não errar as respostas sociais que dali em diante só ficariam pior.

No lugar errado e na hora errada

Um dia eu estava na casa de uma prima e ela estava vendo uma coisa extremamente comum para alguém de 10–11 anos como eu, desenho, mas esse era diferente, digo, esse passava na TV mas por algum motivo ela estava assistindo com legendas e em japonês, até aquele momento minha noção de “Japão” eram Zelda e Mario e aquilo parecia legal, um jeito diferente de falar, algo diferente do que eu estava acostumado na TV. Ela me chamou e ficamos assistindo um episódio atrás do outro, minha prima é 4 anos mais velha do que eu e naquela época já ouvia Forfun, Evanescence, Avril e outras coisas mais próximas do pop punk, eu poderia citar Blink-182 mas seria uma memória falsa, dito isto, ela sempre pulava as introduções, geralmente com alguma fala sobre não querer ouvir música em japonês, pronto, era o que o pré-adolescente Kirinha precisava ouvir, alguma coisa diferente, algo que até alguém descolado como a “rebelde” prima achava diferente, aquilo era algo sério pra mim e eu precisava saber de onde veio.

Não existia internet banda larga na minha cidade nessa época, mas os meus poucos Kbytes foram gastos lendo sobre Naruto na Wikipedia, no dia seguinte eu sabia todas as coisas que iam acontecer e ela ficou muito brava comigo porque eu dava spoiler e eu não fazia a menor ideia do que era um spoiler, no final ela desistiu de assistir Naruto e deixou os CD’s comigo, era tudo que eu precisava, todas as coisas estavam convergindo para uma descoberta inacreditável, eu não pulei nenhuma introdução, nenhum fechamento, eu ouvia todas as vezes e aquilo ficava cada vez mais na minha cabeça, na terceira introdução (Kanashimi Wo Yasashisani) a voz não parecia nem de mulher nem de homem e aquilo simplesmente me arrastou para um mundo que eu estaria por mais de 10 anos e até hoje tem seus resquícios. Não demorou muito até eu aprender as introduções boas e as ruins, eu conheci Asian Kung-Fu Generation (AKFG) ouvindo aquela versão cortada de Haruka Kanata, cuja qual eu não entendia mas era um refrão forte e pesado, um refrão que não poderia ser ruim de forma alguma, conforme eu avançava no anime e descobria a história e cada vez mais me fixava naquilo, as músicas acompanhavam, no ápice da história em No Boy No Cry do Stance Punks talvez tenha sido a primeira vez que eu tenha tido contato com um punk em seu conceito mais forte, uma música rápida, com vocais desafinados, com energia o suficiente para que eu colocasse ela no ultimo volume e gritasse o pouco da letra que eu sabia.

Surf Bungaku Kamakura, por Asian Kung-Fu Generation

Junto com essa onda de aberturas de anime, que geralmente são músicas enérgicas e rápidas, os encerramentos tendem a ser uma coisa mais lenta, mais cantada e menos enérgica, bem no intuito de fechar de uma forma calma algo que foi elétrico o tempo todo, procurando sobre essas músicas eu aprendi a diferença entre J-pop e J-rock.

O que hoje é muito mais massificado como K-pop tem suas origens num incipiente pop japonês que era muito pautado em boy e girl bands, como Arashi, Orange Range e Ayumi Hamasaki, a diferença entre os dois além da nacionalidade é a política de Hallyu, coisa que o Japão não achou que seria uma boa ideia ou talvez não compensasse, uma vez que a fábrica cultural japonesa já era muito mais consolidada do que a coreana.

O pop japonês não demorou muito a estar presente também nas coisas que eu escutava, logo os animes se diversificaram, em Bleach eu conheci a Yoonha, que apesar de coreana cantava em japonês, e também Yui Yoshioka que foi a primeira ponte entre eu e a balada, em seu conceito de música calma/romântica, Yui tocava Rolling Star na quinta abertura de Bleach e era um pop punk bem cadenciado, com refrões chicletes e instrumental fácil, mas foi procurando mais sobre aquela artista que eu descobri suas músicas mais calmas e que na verdade Rolling Star foi uma tentativa frustrada de mudar o formato, de músicas lentas para algo mais agitado, apesar de não ter funcionado, Rolling Star é uma das músicas que eu mais ouvi a vida inteira.

Vendo Death Note não só o apelido surgiu como também o contato com duas coisas, o metal melódico e extremamente bem executado da primeira abertura e o metal nojento e porcamente cantado da segunda, aqui talvez tenha sido outro momento onde eu tive contato com o punk que depois viria ser peça fundamental no conceito que eu tenho de música. Maximum The Hormone apesar de parecer muito mal cantado e só gritaria é de uma complexidade até alta para uma banda punk, todos os vocais se complementam, os ritmos mudam constantemente e uma peculiaridade dessa banda em questão é: a baterista. Nawo Kawakita é até hoje uma das melhores bateristas que eu já ouvi, além de todo trabalho em levar diversos ritmos nas músicas, Nawo também faz vocais, em algumas músicas o tempo inteiro, eu não decidi tocar bateria por causa dela, mas certamente foi papel principal quando eu decidi tocar algum instrumento.

Maximum The Hormone, Nawo Kawakita no centro

Toda essa cultura japonesa que aparentemente era só minha começou a escorrer em volta de onde eu passava, acho que é perdoável aqui que eu me sentisse único no contexto a música, anime e afins, mas não demorou muito até eu perceber que aquela coisa de anime e cultura japonesa era algo já batido fora do meu mundinho, da minha cidadezinha de interior.

Aos poucos eu fui conhecendo gente que também gostava daquilo, eu fui criando laços e descobrindo que eu gostava de estar ali, entre os “esquisitos” entre aquelas pessoas que talvez não soubessem explicar o que gostam de ouvir porque tinham uma certa vergonha de falar nomes japoneses que causariam dúvidas nas pessoas, esse contexto me causava paz, me deixava quase que como em casa, eu sou assim como essas pessoas, eu penso como elas e ali o Kira de 14 anos aprendia que seus círculos são necessários, seus amigos são necessários e seria com muito custo que ele aprenderia a dizer adeus quando aquilo perdesse o sentido.

Eu queria cada vez mais ver animes, animes cada vez mais desconhecidos, como uma competição pessoal, eu queria cada vez mais ler, ver, saber sobre cultura japonesa, de uma forma pouco acadêmica mas com muita vontade, o apelido nessa época era legal por ser japonês e tudo mais eu queria que também o fosse, existia aquela sensação de que aquilo não seria uma fase e que talvez eu fosse assim eternamente e se eu pudesse voltar no tempo o Kirinha não acreditaria em mim quando eu dissesse que ultimo anime que eu assisti foi Akira e que talvez eu não veja um anime novo há pelo menos três anos, mas ele ia ficar feliz em saber que o apelido dura até hoje, eternizado em camisas de goleiro, em memórias e histórias.

O Poser e o Tr00

Eu vivia bem dentro do meu mundinho japonês, quase que como numa bolha, eu não fazia ideia de como as coisas se davam culturalmente por fora daquilo, note que eu não citei aqui sequer uma banda ou noção de música brasileira(Além de Mamonas né), eu estava perto dos meus 16 anos e simplesmente nunca havia escutado com atenção coisas básicas como Legião Urbana ou Cazuza, aquilo parecia tão “cringe” e essa expressão nem sequer existia, lembro que um dia eu dei uma chance pra uma banda que não era japonesa por conta de um música em Burnout 3: Takedown, Hot Night Crash da Sahara Hotnights era uma coisa um pouco parecida com o rock japonês na minha concepção (obviamente que eu não entendia que na verdade o rock japonês era parecido com o pop punk americano, mas sigamos), procurei a banda e a música ficava na cabeça, aquele jogo me fez escutar muitos outros pop punks em inglês e era uma das poucas coisas que me tirava do contexto Japão.

Ao mesmo tempo alguns amigos me mostravam coisas como Metallica e as coisas mais básicas do “Heavy Metal” mais padrão, como Iron Maiden, Ozzy, Black Sabbath e eu comecei a escutar aquilo tudo com muitos pés atrás, eu não percebi na época mas aquilo já me fazia naturalizar o inglês muito mais facilmente, porque eu havia naturalizado antes algo muito mais “selvagem”, escutar em inglês já não parecia muito diferente, até que era legal descobrir aqueles clássicos, Enter Sandman(Metallica), Walk(Pantera), Ratamahatta(Sepultura), Violent Pornography(System Of a Down), aquilo era como aprender o básico tudo de novo, como uma continuação de um jogo que eu havia jogado muito no passado, o meu flerte com o metal foi bem natural mas não demorou até que os japoneses voltassem ao centro das coisas, o metal me levou a ouvir coisas mais polidas, coisas mais progressivas na questão musical, eu voltei pro J-rock procurando algo assim e eu descobri esse metal japonês que se misturava com o Visual Kei, eu me sentia muito fora da caixinha porque aquilo era diferente do que eu ouvia antes e eu me perguntava se eu estava de fato gostando de algo diferente ou se era só uma banda ou outra.

O Visual Kei é uma extravagancia em sua maior potência, são roupas, cabelos e uma musicalidade extremamente trabalhadas e extremamente detalhadas, apesar de impressionante o Visual Kei caiu rápido num mais do mesmo pra mim, talvez eu tenha gastado todo meu suprimento de cultura japonesa anos atrás e aquilo agora não parecia fazer sentido mas ele teve um papel na minha noção musical, eu aprendi ali que talvez aquela coisa progressista não funcionasse muito pra mim, aquilo me afastava de mim, eram caras extremamente diferentes de mim, as roupas eram inatingíveis, os cabelos eram quase que obras de arte, a musicalidade tinham tantas camadas que me dificultava entender, aquela bateria da Nawo lá atrás me dizia tão mais coisas com tão menos camadas que eu comecei a repensar aonde eu estava indo.

Eu acabei voltando a buscar mais influência no rock, mas nesse rock mais clássico, de bandas marcantes, coisa bem nos trilhos mesmo, eu já conhecia os Ramones nessa época mas eu não entendia qual era aquela ideia, só um jeito de tocar e uma letra qualquer que sempre parecia a mesma, mas os Ramones me levaram num lugar diferente, eu ouvi Anarchy In The UK e aquilo sim parecia ter sentido, era uma força que eu sentia no metal, mas era mais fácil de entender, era mais simples, era até gostoso de ouvir de novo. Aquilo logo me levou no The Clash e London Calling era a nova queridinha, nesse momento eu me perguntava aonde estavam todas as bandas japonesas que eu antes tinha todo um carinho, mas agora tinham umas coisas diferentes tocando.

Ao mesmo tempo eu lembro de cada vez mais me fixar em História na escola, aquela coisa de Século XX parecia tão legal, a Segunda Guerra parecia incrível e todas as coisas que o Brasil passou e agora parecia tão longe (Kira bobo?), eu fui aprendendo sobre política bem devagar e aquilo começou a abrir um horizonte totalmente diferente, aquelas bandas que você descobriu não tocavam só um ritmo fácil de ouvir e de tocar, aquilo era lixo social, aquilo eram restos de uma cultura que falhou e falhou politicamente acima de tudo e afinal, o que diabos era uma anarquia no Reino Unido? Eu sei que os Pistols foram uma banda engenhada desde o princípio, mas aquela rebeldia era algo significativo, aquilo talvez só precisasse de uma direção e eu comecei a cada vez mais entender o movimento punk e o que eu escutava e agora todos aqueles metais hiper trabalhados, todos aqueles solos de guitarra e coisas que nunca aconteceriam sem anos de trabalho e treino começaram a perder o sentido totalmente, o punk passou me explicar o que eu gosto e porque eu gosto.

Debochado e hablo mesmo!

Acho que mais do que isso, o punk tutelou um Do It Yourself que me fez tentar aprender tudo sozinho, eu decidi cursar História por isso, porque eu entendi que era lendo o passado que eu podia consertar o futuro, com 18 anos eu queria dividir todo o conhecimento político que eu tinha, eu queria debater, eu queria conversar, eu queria ensinar sobre anarquia e sobre movimento autogeridos e eu gostava de saber que tudo aquilo veio do que eu escutava, a música que um dia eu tive vergonha, eu tinha orgulho de dizer que era punk e não há idade melhor para isso que aos 18, porque hoje aos 26 eu não tenho nem coragem de dizer que sou, e sim, digo que eu gosto. Acredito que foi com Garotos Podres o pontapé inicial da onda política realmente voltada ao Brasil sem que houvessem conceito traduzidos e retraduzidos.

Eu passei a mudar meu conceito de música e ritmos para o que as músicas queriam dizer, eu passei a deixar de procurar o “rock”, eu não ouvia samba, funk, mpb, nada disso, eu achava o ápice da vergonha esse tipo de coisa e tão errado eu estive, que agora eu adorava ouvir músicas brasileiras porque eu entendia especificamente qual o sentido delas, me fazia mais sentido procurar isso do que outras bandas americanas. O pop punk passou a não suportar mais o que o punk clássico criou, não era mais cool pra mim ouvir sobre romances e skate e bebedeira e coisas do tipo, eu era quase um militante, só me faltava um partido, procurando mais e mais de punks políticos eu conectei dois pontos extremamente longes um do outro.

Voltando no tempo, nos meus 12 anos eu ouvi uma música chamada “Pinocchio”, uma banda japonesa que tocava um encerramento de Naruto, chamava-se “Ore Ska Band” e era uma musicalidade que eu jamais havia ouvido, mas não dei tanta atenção na época, era só uma música animada e legal, eu nem sequer imaginava o que era ska e como o ska estaria presente anos depois na minha vida. Beirando meus 19 eu descobri o ska, o ska jamaicano mesmo, o original, e aquela antiga Pinocchio ganhou contextos totalmente diferentes, eu aprendi o que o ska significa e sua história, suas lutas travestidas de festas e aquilo me fez continuar seguindo o conceito de música política e que no ska a musica inteira é uma festa e fui seguindo assim.

Sonhar não custa nada

A descoberta do ska e cada vez mais a politização que eu buscava me colocava cada vez menos buscando debates políticos, talvez ter passado a faculdade inteira perseguindo esse conceito me tenha desgastado a ponto de eu evitar o conflito e agora as músicas pareciam refletir isso, o ska é em termos isso, é um deboche político, você não precisa ganhar a discussão porque na maioria das vezes ganhar isso de nada vai valer e vale muito mais que você saiba o certo e o errado, pelo menos na sua concepção, o ska mudou a forma como eu fazia política, do embate pro deboche, porque é assim que o ritmo funciona, The Djangos é uma banda de ska, brasileira e que tem um disco quase inteiro sobre isso, é o puro deboche que cobre uma série de críticas a nossa sociedade como um todo e cabe aqui citar que é uma banda dos anos 90 e continua ainda assim atual.

Lar doce lar num barraco tão precário, com um homem tão humilde, se não fosse involuntário, inquilino orgulhoso, se não fosse um viaduto

A busca pelo Ska e o punk foi me levando por caminhos um pouco tortuosos mas de certa forma, uma coisa nova e diferente, não demorou muito para que o punk e a política me levassem a artefatos latino-americanos, o punk é um resto social, um resto que sobra de uma serie de problemas sociais e esses problemas são exatamente nós mesmos, a américa latina é uma das maiores efervescências sociais e logo isso se mistura no futebol, que dialoga com a nossa sociedade e traz pra campo esse termômetro social.

Eu fui me acostumando aos poucos a ouvir o ska e o punk com toadas de espanhol e pra quem naturalizou o idioma japonês, o espanhol é bem tranquilo. Logo eu me confundia em bandas latino-americanas e espanholas, as vezes um pouco de punk português também, mas o ponto é, essas bandas hispânicas passaram a cada vez mais aparecer nas minhas listas, logo eu adentrei a Espanha como adentrei o Japão anos atrás, eu aprendi a geografia do país, eu pesquisei sobre as muitas Espanhas dentro da Espanha, o país basco e sua força por independência me encantou de uma forma que eu já passei desilusões amorosas assistindo um filme basco sobre o diabo na cultura basca e apesar de ruim, foi divertido e me distraiu, mas a língua, a música e a história do país Basco me fizeram quase que adotar a música em espanhol, tudo bem que quando eu falo sobre país basco eu falo de língua completamente diferente do espanhol, mas de novo, o basco ainda se escreve com letras em latim, já o japonês não.

Sim, tinha na netflix há alguns anos

Essa busca por música e cultura basca me fez cair em outro lugar que foi o indie e o pop espanhol, Carolinna Durante, Ginebras, La La Love You, Anabel Lee e Fresquito Y Mango são exemplos do que eu acabo ouvindo hoje em dia e como isso foge completamente aos padrões do J-rock, do metal e do punk, a gente acaba sendo uma colcha de retalhos mesmo, da nossa própria vivência, da nossa sociedade e daquilo que urge dentro de nós, eu não simpatizaria com o punk se não tivesse provado dessa ideia de ser “alternativo” há muitos anos atrás, esses bloquinhos encaixados lá atrás vão dar sustentação para o futuro e uma das coisas mais engraçadas é não saber nem poder prever o que vai acontecer e quem vai ver isso acontecendo com o passar do tempo.

É engraçado pensar como isso vai se repetir em menores ou maiores quantidades na nossa sociedade, é genérico pensar que o futuro está nas mãos da juventude de agora, mas uma vez ele já esteve nas nossas mãos e é nosso o ressentimento de não ter aproveitado. Por isso a gente julga tanto essa juventude, porque nós falamos do alto da nossa vivencia, de fora da nossa bolha, quase que se sem sentimentos e quase que com maldade, enquanto a gente fala de uma juventude vivendo dentro de suas bolhas porque ali é confortável como uma vez já foi pra gente e vivendo quase que de forma inocente, claro que existem diversos fatores e casos que fogem a essa regra, mas é de extrema importância que a gente dê voz e vez a essas pessoas.

Ninguém me deu voz e vez ouvindo J-rock, chegaram a me dar uma advertência escolar por isso (ferindo talvez o ECA inteiro) e isso só foi resolvido porque a minha mãe deu o apoio necessário para que eu fosse quem eu quisesse ser, até hoje ela adora escutar Ohayou que foi abertura de Hunter X Hunter, foi o profundo mergulho na cultura japonesa que me fez ir atrás da “História”, por que aquela cultura era assim? Foi esse mergulho que me ajudou a interpretar depois o ska e as histórias sobre as muitas espanhas, isso é parte de uma formação social que por vezes esteve sob perigo, muitas delas diante do próprio corpo escolar no maior clichê da escola ser uma fábrica de mentes iguais.

Apesar de não ser muito religioso, não tem outro jeito de seguir em frente se não for com fé em Deus e nas criancinhas (da favela).

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